Um segundo

Tiago Zarowny
1 min readAug 19, 2024

--

Às vezes as coisas nao dão certo e a gente cai e quebra a cabeça no chão. Virei de cabeça pra baixo e eu queria chorar mas não chorei. Acordei e quando me vi eu nem tava lá. Nem tava aqui ou nem ali ou não sei. Não sei. Acho que mais uma vez as coisas deixaram de dar certo e quando dá deu.

Abri a cabeça no chão duro e sangrou e meu cérebro vazou metade pra fora. Fiquei faltando um pedaço mas continuei mesmo assim e tudo foi ficando rodado rodado e rodado como se as coisas girassem paradas e eu me movia. Pra onde ia não sei mas pra algum lugar não devia ser.
Parei todo besta e todo torto e mesmo assim continuava a ir. Meu papagaio gritava "trouxa! Oh trouxa!". E eu me retorcia como uma aranha recém morta.

E talvez eu houvesse morrido. Talvez eu tenha morrido. Talvez estou morrendo todos os dias. Desde sempre. Talvez o projeto de viver não deu certo em nenhum dia além do primeiro. Todos os dias viver dá errado e acabo morrendo mais um pouco.

Morro sem querer porque é o que resta. E resta morrer porque viver já foi. Já deu. Já era. E o já é assim. Quando vê já foi e eu vou e eu fui. O já é tão sutil que é imperceptível. Eu já. Mas não mais.

Não mais e nem nunca. Quem sabe nunca nunca. Mas sempre sempre. E quase nunca já. E quando já, jamais.

--

--