Sequestro

Tiago Zarowny
2 min readSep 25, 2024

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O caminho mudou e todo mundo se assustou mas no fim nada mudou. Quem se assustou viveu um terror de 2 minutos quem fingiu nao se assustar viveu um pseudo terror de 2 minutos que acabou nao sendo terror nenhum afinal tudo se ajustou.
Os caminhos mudam mas os fins permanecem os mesmos, as paisagens mudam mas no fim a viagem ainda é a mesma. E foi assim. Parece errado não se assustar com algo que muda sem a nossa influência, como se coisas externas jamais deveriam ter a força para alterar caminhos vigentes. Mas elas tem sim. E quando acontece o melhor é nos assustarmos também e vivermos o pânico de não saber mais pra onde vamos se vamos pra onde dizem que vamos ou se vamos terminar numa rua escura cercada por matagais dos dois lados até esperar um cara de 3 metros de altura e uma faca de 1 metro nos dar a ordem? É isso ou fingir que tudo se ajeitará sozinho. Fazer o famigerado wu wei, a ação da inação. E aí tudo se ajeita. Ou não.

Fiz a ação da inação e nada. Ou muitas coisas, mas independente da quantidade de coisas tudo permanece em paz e nenhum grau de desespero afligiu nenhuma gota de mim. Pelo menos não da versão de mim que fingiu não se desesperar, essa que lutava uma batalha frenética contra a versão de mim que se preparava para terminar numa rua escura cercada por matagais.

Às vezes seria melhor ser sequestrado por algo externo. Porque se não, estou sendo refém de mim mesmo, o que caracteriza crime muito mais grave. Mas até que eu me liberte ou que alguém de 3 metros de altura me mate, continuo me auto sequestrando a mim mesmo, todos os dias até que eu mesmo me liberte de mim.

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