Saudade

Tiago Zarowny
2 min readJan 8, 2023

Uma das coisas mais doloridas que eu preciso reconhecer em mim é que apesar de todos os pesares e apesar de tudo, sou horrível com sentimentos. E tenho cada vez mais percebido que sinto um negócio na minha barriga que faz nhéc nhéc nhéc nhéc nhéc, como se fosse uma máquina de lavar daquelas horizontais, que revira todo meu interior e eu sinto tudo girando.

E esse nhéc nhéc nhéc às vezes não me deixa dormir, às vezes não me deixa em paz, e eu só queria fazer ele parar. Mas quando menos espero e quando o silêncio se faz quase presente, ele é invadido pelo som da máquina de lavar que se esconde dentro de mim. E eu sinto meu interior se revirando. Até algum tempo atrás eu falava com orgulho que não sinto saudade, hoje me envergonho disso. Sinto sim. E tem sido bonito perceber isso. E cada vez mais tem sido muito claro que aquilo que faz crescer é o que machuca e tenho crescido muito, eu acho. E a máquina faz nhéc nhéc nhéc enquanto meu interior se revira por inteiro.

Esses dias andei pensando muito sobre se ser criança. E sobre crescer. Como eu queria me reencontrar com a minha versão criança que um dia se perdeu. Começarei novos ciclos e neles eu queria que houvesse essa dimensão, esse tornar-se criança. Esse reviver de coisas que seriam, se não tivessem não-sido. Mas no fim mantenho os destinos abertos e aceito o que enviarem a mim, acho que todos os caminhos são caminhos então o que pintar eu assino. E nesses caminhos percebi que tenho saudade e ela me revira o dentro. E também percebi que sinto saudade de mim mais do que do outro. O que me deixou triste e não sei se é completamente verdade, pareceu fala pronta facilmente comprada, mas que no fim não é lá muito isso não. De qualquer forma, sinto saudade de alguma coisa que gira. Que me gira, e que não me deixa dormir.

Que eu possa sentir sentimentos, saudades e que eu possa ser aquela criança que habita minha memória e nem sei mais se ela de fato existiu. Mas pra mim existe.

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